Um Original Meu - Conto O Corvo


O conto abaixo é um original que eu escrevi para uma atividade escolar do Ensino Médio. Como foi algo sugerido pela minha professora para a classe toda fazer e compilar em um só documento, o critério era que fossem contos curtos. Quem quiser ler todos os contos, pode acessar o link do "Issuu" que vai estar no final desse conto. Enfim... Deixem nos comentários o que acharam.
-peace.  


The Raven

O Corvo

Ana Paula A. Oliveira

Já havia uma semana que Edgar e seus dois irmãos, Allan e Poe, estavam saindo mais tarde da escola por conta do trabalho de Ciências. Como já estava escurecendo, os três irmãos decidiram pegar um atalho para casa.

Quando chegaram à estrada, perceberam que ela estava deserta e o céu já negro da noite, não tinha estrelas e a Lua estava encoberta pelas nuvens. A única fonte de iluminação provinha de um poste de luz tremeluzente ao longe. Enquanto caminhavam em direção à luz, e as nuvens deixavam entrever alguns fachos de luz da Lua, uma sombra despontou no céu e desapareceu entre os galhos de uma árvore.

Imediatamente, Edgar, Allan e Poe ouviram então um grasnar atrás de si, e sobressaltados com o súbito barulho, voltaram-se rapidamente a tempo de ver que se tratava de um corvo.

"Odeio corvos", disse Edgar. "Dizem que eles são de mau agouro".

"Superstições... superstições", disse Poe, balançando a cabeça. "Isso tudo é coisa de gente ignorante que não tem o que fazer e inventa essas histórias".

"Ei, vocês dois! Parem de discutir e ouçam", intrometeu-se Allan. "Já tiveram a sensação de estarem sendo observados?"

"Sim, o tempo todo", respondeu-lhe Poe com o semblante sério.

"Perdão? Disse o tempo todo?" inquiriu Allan, estupefato.

"Disse sim, maninho. Ou vai me dizer que acha que somos as únicas pessoas no planeta?"

"Claro que não acho! E de qualquer forma, não é desse tipo de 'observar' que estou falando", atirou-lhe Allan, com raiva. "Falo do 'observar' de um predador".

"Pare de bancar o paranoico, Allan", disse Poe, levantando uma sobrancelha com desdém. "Está até parecendo o Edgar'.

Os dois começaram uma discussão sobre a hipótese da personalidade racional de Allan possuir uma faceta paranoica ou não. Não havia se passado sequer cinco minutos quando Edgar se intrometeu.

"Parem com isso os dois!", enfureceu-se Edgar. "E vamos embora antes que..."

Edgar foi interrompido pelo corvo, que dava um rasante e levava seu chapéu.
"Ei! Isso é meu", bradou Edgar, caminhando depressa seguido de seus dois irmãos até o poste onde o corvo pousara.

Por causa da luz fraca, quando os três se aproximaram do poste, estacaram e levaram um segundo para se convencerem de que a cena frente a seus olhos não se tratava de uma ilusão.

Acorrentado ao pé do poste, estava o que parecia ser um homem que havia sido vítima da mais cruel forma de agressão, pois seu corpo estava mutilado.

"Andem logo!" gritou Edgar, correndo até o homem. "Temos que ajudá-lo!"

Seus irmãos correram atrás dele e o detiveram antes que pudesse tocar no homem.

"Não Edgar! Ficou louco? Podem achar que temos algo a ver com o crime", disse-lhe Poe com a voz rouca pelo medo. "É melhor não mexermos nele e ir correndo até o posto policial. Eles saberão o que fazer".

"Mas..."

"Dessa vez o Poe tem razão", disse Allan, que era o mais ajuizado dos três. "Quanto mais rápido formos chamar ajuda, mais rápido chegarão aqui".

Relutantemente, Edgar concordou. No entanto, antes que eles pudessem ir, o homem começara a falar.

"Vingador... vingador", dizia a voz quase sem vida do homem.

"Essa voz..." disse Allan, tentando se lembrar de onde conhecia a voz. "É do prefeito!"

"Quem faria isso com ele?", perguntou Poe.

"Ele disse 'vingador', esse deve ser o criminoso", raciocinava Allan. Em seguida virando-se para o prefeito, perguntou: "Quem é o vingador?"

Antes que o prefeito pudesse responder, a luz piscou e se apagou, deixando-os desorientados pela escuridão total.

"Um segundo depois, o silêncio foi quebrado por um grito de gelar o sangue.

"Edgar! Corre, corre!"

Edgar não soube dizer se foi Allan ou Poe quem lhe dissera para correr, só o que sabia era que ouviria o que lhe parecia à voz da razão.

Num instante, a luz piscou outra vez e tornou a acender. Obedecendo a um impulso, Edgar virou-se e comprovou o que temia: Allan e Poe estavam mortos. Um com uma faca no peito e o outro com a garganta degolada.

Tremendo de medo e com o rosto molhado pelas lágrimas, Edgar virou-se para fugir da carnificina, mas só teve tempo de notar os olhos negros, frios, que o encaravam com a morte explícita em sua expressão, quando foi engolido pela mais profunda escuridão.

Quando lentamente abriu os olhos novamente, Edgar só viu escuridão e ao tentar se levantar para se orientar, bateu em algo.

Apalpando à sua volta, Edgar sentiu o coração acelerado, as mãos suando e a respiração se tornando difícil devido ao pânico, pois sua mente reconheceu as formas à sua volta, tornando-o consciente de estar dentro de um caixão. Só então ele começou a gritar por socorro.

Pouco tempo depois, a tampa do caixão foi movida alguns centímetros, dando a Edgar a oportunidade de respirar e enxergar o céu encoberto pelas folhas das árvores. O alívio de Edgar em estar sendo resgatado transpareceu em sua face, contudo isso só serviu para deleitar ainda mais o assassino, que surgira imponente e ameaçador acima de Edgar.

O assassino olhou para Edgar e lhe deu um sorriso que o fez sentir um calafrio na espinha.

"Por que está fazendo isso? A polícia vai acabar descobrindo os assassinatos e você será preso", disse Edgar, lançando mão de sua melhor cartada.

"Não Edgar, eles não vão descobrir", disse o homem com a frieza de uma rocha.

Edgar, no entanto se prendeu à menção de seu nome.

"Você me conhece?"

"Digamos apenas que eu nunca entro num jogo sem conhecer bem os meus oponentes. Quanto aos meus motivos... Tudo o que você precisa saber é que estou cobrando o que me deviam. Dizem que quem é vivo sempre aparece".

"Você matou meus irmãos e fez aquilo com o prefeito. Quando eu sair daqui, vou até a polícia contar tudo o que sei", disse Edgar sentindo a raiva tomar o lugar do pânico por um momento.

Ele acabou se arrependendo do impulso quando o homem lhe disse a seguinte frase: "Você não vai contar nada, já que os mortos não falam".

E satisfeito ao ver Edgar arregalar os olhos, recolocou a tampa no lugar.

Mesmo enquanto escutava os gritos de Edgar, o homem que havia se autodenominado "o vingador" pôs sua cartola na cabeça e seguiu caminhando por entre os túmulos com seu corvo empoleirado nos ombros.



Publicação Original: Issuu

Notas:

[1] Inspirei os personagens, alguns elementos e o nome do conto na obra do autor Edgar Allan Poe. Mais sobre o autor: https://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe

[2] Leia o poema original ("The Raven", em inglês) aqui, e a tradução aqui.

[3] O poema "O Corvo" inspirou várias obras cinematográficas com o mesmo nome do obra original (além do meu conto kk), como os filmes: The Raven (1935),  The Raven (1963), e O Corvo (2012)

Comentários