[Novel] Heavy Sweetness: Ash-Like Frost - Capítulo 1.2
Capítulo 1: Primeiro Encontro em Shui Jing (Parte 2)
Pronta para acertar, eu peguei a parte pendurada do corpo do corvo em minhas mãos e estava prestes a descer a faca nele, quando de repente, uma voz retumbante explodiu: "Como se atreve!"
Na calada da noite, a voz estrondosa me deu um bom susto. Eu estava tão chocada, que tropecei e cai no chão, quase me cortando com a faca.
O corvo se sentou na cama e me olhou com um par de olhos brilhantes. Minha confiança vacilou sob seu intenso olhar.
Só depois que coloquei minha faca de lado senti que poderia olhá-lo de volta, todo o tempo maravilhada com que ele era mais alto do que até mesmo a cana-de-açúcar que crescia no jardim do Sr. Hu - realmente um corvo mágico.
Em contrapartida, eu, que estive praticando minha magia por 4.000 anos sem avanços, ainda parecia uma criança de dez anos, mais jovem até mesmo do que Lian Qiao, que tem só 1.000 anos.
É claro, na época, eu não tinha ideia de que eu não era apenas uma fada uva normal.
Eu me senti profundamente envergonhada da minha própria estatura enquanto aquele corvo me avaliava de cima a baixo rápida e ferozmente, ele abriu sua boca e me perguntou: “Que tipo de pequeno demônio é você?” Mesmo que ele não houvesse se movido um centímetro, sua poderosa e digna postura parecia oprimir os outros. Foi a primeira vez que eu percebi que um ar imponente nada tinha a ver com roupas.
Ainda que eu seja fraca[1], ainda sou uma digna fada com um objetivo elevado, a busca pela imortalidade. Ser chamada de “demônio” por esse corvo realmente me ofendeu e me indignou.
Então outro pensamento surgiu em minha mente, como esse corvo estava à beira da morte agora há pouco e se recuperou para sua antiga forma após ter tomado uma gota do meu mel, a eficácia do mel que eu produzi era grande o suficiente para ajudar esse corvo. Se eu lutasse contra ele eu definitivamente sofreria uma derrota esmagadora, então não mencionei que eu queria obter o seu neidan. Se eu o deixar saber disso, temo que seria a minha vez de virar adubo[2] e fertilizar as flores.
Deliberadamente fiz uma expressão gentil e cortês: “Amigo, você pode me chamar de ‘benfeitor’. É um hábito meu, uma fada do Espelho D’Água, fazer o bem sem olhar a quem”.
Essas palavras são para tornar claro para ele que eu salvei sua vida, e hmm, mesmo que a minha intenção original tenha sido comê-lo salvá-lo, o resultado ainda foi o mesmo: eu o salvei. Ele não pode destruir o seu benfeitor. Em segundo lugar, eu quis lembrá-lo de que eu sou uma fada e não um pequeno demônio como ele diz.
“Benfeitor?” O corvo sorriu levemente e me olhou friamente.
Seu olhar me encheu de apreensão e eu achei haver sido exposta, mas fingi estar calma e respondi: “É claro. Meu amigo, você caiu no meu quintal hoje e estava gravemente ferido. Para aumentar sua longevidade, eu te dei uma jarra inteira de mel silvestre, feito com minha receita secreta, e então você começou a se recuperar até finalmente ressuscitar”. Com o céu azul como minha testemunha, além das palavras “jarra inteira”, cada uma e todas as palavras que eu disse eram a verdade.
O corvo subitamente deu um sorriso radiante, ainda que aquele brilho parecesse conter um jardim cheio de flores de pessegueiro, no momento, parecia ter intenções assustadoras. Ele abriu sua boca levemente: “A faca que estava brandindo agora há pouco, também era para salvar minha vida?”. Eu honestamente ponderei por um momento e então mostrei um fio de pena direcionada a seu corpo: “Eu vi que o amigo estava em trapos, e quis ajudá-lo a mudar de roupa, mas não pensei que fosse ver que o amigo tem tumor crescendo embaixo de sua barriga. Ainda que digam que uma forte força de vontade em um corpo ferido é uma coisa boa, ainda é diferente do que as pessoas normais têm. Como eu já o salvei, eu deveria terminar minha boa ação, então eu queria cortar fora o tumor.”
Depois que terminei de falar, o corvo tinha uma estranha expressão em seu rosto, mudando de verde para branco, tão estranho. Ele me olhou de cima a baixo e então perguntou: “Você é uma fêmea?” Então ele continuou a dizer: “Como você é uma fêmea, você não sabe que homens e mulheres são diferentes? Tal devassidão é altamente imprópria!” Disse ele com certa raiva.
Eu não tinha ideia de como responder a isso, eu só sabia que flores, grama, árvores, madeira, humanos, peixes, pássaros, e animais diferiam, mas nunca havia ouvido nada sobre homens e mulheres diferirem, então eu estava muito incerta. Um dia um tempo depois, depois que o Sr. Hu me ouviu falar disso, ele ficou muito indignado, as lágrimas escorrendo de seus olhos me acusando: “Eu sou um macho. Como pode a pequena uva dizer que você nunca viu um homem?” Eu atentamente o acalmei: “Eu pensei que todas as cenouras se parecessem com você.” O Sr. Hu bateu em seu peito e bateu o pé.
Essa foi a primeira vez em 4.000 anos que eu havia confusa e surpreendentemente ouvido que eu era uma mulher, e que havia outra categoria chamada de “homem”. O corvo que havia se proclamado como homem beliscou o coque na minha cabeça e disse: “Vendo que você ainda é jovem e nasceu nas terras bárbaras fora dos Céus, eu não vou argumentar com você.”
Indignada, eu estava prestes a argumentar de volta, mas o corvo recitou uma frase que me fez voltar a minha verdadeira forma. Eu não era capaz de ficar de pé firmemente então eu rolei até a extremidade da cama. O corvo cortou a visão do céu e me pegou, examinando-me com grande interesse. “Eu estava imaginando o que isso era, então era uma pequena fada uva.”
Vendo seus lábios abrindo e fechando na minha frente, eu subitamente pensei nas palavras do Sr. Hu: “Fadas das frutas e imortais das frutas como nós, são escassas. Se nós sairmos, seremos devorados.” Eu tremulamente fechei meus olhos. Sr. Hu, oh Sr. Hu, eu devo morrer antes de completar meu aprendizado. Antes de ter pisado fora do Espelho D’Água, eu vou encher o estômago de um corvo, me permita ir primeiro.
O resultado de ter fechado meus olhos é que, ao fechá-los eu acidentalmente caio no sono.
Quando acordei, só vi uma vasta extensão de negrume. Como pode o Sol não ter nascido ainda? Então eu senti como se o Monte Tai estivesse me pressionando para baixo, e disse para mim mesma: talvez eu já tenha entrado nos cinco órgãos vitais daquele corvo, e se retornar a minha forma humana, talvez eu abra um buraco em seu estômago.
Assim eu me transformei como havia dito.
Após retornar a minha forma humana, uma expansão de luz atingiu meus olhos, mas eu não irrompi pelo estômago do corvo. Parece que o corvo havia voltado a sua forma de pássaro algum tempo antes. Ele havia aberto suas asas e caído no sono na minha cama, e suas asas haviam estado me pressionando até agora.
Então, pelo que parece, os corvos não comem uvas. Isso me deixou muito aliviada.
Lembrei que não fiz meu pedido à Chefe Floral ontem, então me preparei para ir até à barreira de novo.
No momento que andei até a porta, ouvi uma voz como água fluida dizer atrás de mim: “Por agora, apenas prepare o café-da-manhã.” Era aquele corvo que havia despertado e voltado à sua forma humana, preguiçosamente reclinado na cama. Ouvindo seu tom, pensei que ele deveria estar muito acostumado a dar ordens aos outros, mas infelizmente, eu não estava acostumada a receber ordens assim.
Contudo, esse “mas” é o mais problemático. Ele é mais poderoso do que eu, e noite passada ele conseguiu me forçar a voltar a minha forma real apenas recitando uma frase, então ofendê-lo não me faria bem algum.
Então, segurando minhas lágrimas, ressentidamente caminhei para fora. Ouvi então outro som às minhas costas: “Volte logo.”
Mas, é esse “mas” outra vez. Quando eu finalmente encontrei comida e a trouxe para o corvo, como ontem, o rosto dele passou de verde para branco diversas vezes. Ele empurrou a comida para longe odiosamente: “Coma você mesma.”
Eu abaixei minha cabeça e olhei para o prato cheio de vermes, mas não julguei que houvesse nada de errado. “Os corvos não comem vermes?”. Que desperdício do meu esforço em cavar todo o quintal interno para achar esses poucos vermes e juntá-los em um prato!
Dessa vez, o rosto do corvo se tornou ainda mais complexo, e após passar de vermelho para laranja, para amarelo para verde, para azul para roxo, ele finalmente abriu a boca para dizer: “Sua pequena demônio, quem te disse que eu era um corvo?!”
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