[Novel] Watashi no Shiawase na Kekkon - Capítulo 2

Novel "Watashi no Shiawase na Kekkon" (My Blissful Marriage) - em português.
My Blissful Marriage

Capítulo 2

A casa do noivo e pesadelos


A família Kudou estava no topo entre todas as famílias de usuários de habilidades.

A maioria das famílias de usuários de habilidades eram ativas desde muito tempo atrás e eram distintas, com longas histórias familiares. Mas mesmo entre todas essas famílias, a família Kudou ficava no topo. Eles são altamente qualificados, isso é um fato. Eles também são donos de vastas terras e fortunas massivas. Miyo ouviu que se eles fossem alugar suas terras, dinheiro começaria a entrar.

O atual chefe da família se chama Kudou Kiyoka. Ele tem 27 anos. Adequadamente, ele frequentou a Universidade Imperial e detém a classificação de major no exército, liderando uma unidade.

Miyo pensara que para alguém tão jovem e respeitável, ele deveria estar vivendo uma vida mais luxuosa. Ainda assim quando Miyo chegou no local indicado no endereço com a pouca bagagem que ela tinha, a realidade era o completo oposto do que ela havia imaginado. Por mais que ela tenha ponderado, essa não poderia ser a famosa mansão da família Kudou, mas sim uma simples residência nos subúrbios.

O chefe da família Kudou vive aqui…?

Ainda que a casa não estivesse localizada longe da cidade, ela era cercada por florestas e campos. A quantidade de pessoas vivendo nessa área era esparsa. E quando a noite caía, essa área era engolfada pela escuridão total.

Após andar por um tempo, Miyo finalmente chegou a uma grande, solitária casa com telhado de palha[1] situada na extremidade de uma silenciosa floresta. Era difícil de acreditar que o chefe de uma casa tão famosa viveria em uma construção tão simples como aquela. Contudo, estacionado ali perto estava um carro, o que mostra a situação financeira do residente dessa casa. Pessoas comuns não seriam capazes de pagar por um carro.

Se esse é o caso, essa é provavelmente a casa de Kudou Kiyoka.

“Perdão.”

Com seu coração na boca, ela bateu na porta e recebeu uma resposta imediata.

“Sim, estou indo… Oh, quem seria você?”

A pessoa que atendeu a porta era uma pequena mulher idosa com um temperamento gentil. Com base nas suas roupas, ela é provavelmente uma serva dessa casa.

“Meu nome é Saimori Miyo. Eu recentemente fiquei noiva de Kudou Kiyoka-sama, então eu vim para visitar…”

“Oh, Saimori-sama, nós estávamos esperando por você.”

Miyo havia imaginado que o servo de um mestre frio e cruel seria sem emoção como uma marionete. Então ela ficou um pouco confusa pela aparência calorosa da velha mulher que sorriu para ela.


“Bem, por favor entre. Eu vou levá-la até o escritório do mestre.”

Miyo entrou na residência Kudou sob a recepção amigável da velha mulher. Enquanto elas andavam pelo corredor, a mulher se apresentou como Yurie, uma serva da família Kudou que tomava conta de Kiyoka, no lugar de seus pais, desde que ele era uma criança.

“Apesar de haverem muitos rumores desagradáveis envolvendo Danna-sama, ele é muito gentil, na verdade. Então você não precisa ficar tão nervosa.”

Yurie provavelmente confundira o silêncio de Miyo com nervosismo. Contudo, não era nervosismo o que impedia Miyo de falar, se tratando simplesmente de um hábito que estava profundamente arraigado nela. Não escutar ou falar mais do que o necessário.

...Até o momento, ela viveu uma vida na qual suas palavras poderiam ser usadas contra ela e na qual emitir qualquer opinião era motivo para punição.

“Obrigada por se preocupar.”

Yurie era realmente uma pessoa gentil, mas mesmo ouvindo tais palavras, seus sentimentos permaneceram imperturbáveis. Independentemente de eles serem calorosos ou frios com ela, no momento em que esse casamento for desfeito, ela ficaria sem um lugar para onde voltar. Tudo o que ela poderia fazer seria esperar por sua morte.

Mas talvez assim fosse melhor.

Poderia doer muito quando ela moresse, mas ela não teria que sofrer mais. A morte era provavelmente uma forma de liberação.

Miyo adentrou no escritório e fez uma profunda reverência.

“Prazer em conhecê-lo, eu sou Saimori Miyo.”


*****


“Nada! Não está aqui! Por que?!”

Quando ela ouviu os gritos de pânico da jovem garota, como se ela estivesse prestes a explodir em lágrimas, Miyo sabia que isso era um sonho.

Era um sonho sobre o pior dia de sua vida.

A jovem Miyo tinha acabado de voltar ao seu quarto após suas aulas só para achar tudo uma completa bagunça.

“Aonde pode estar!?”

Todos os estimados kimonos, obis[2] e ornamentos deixados por sua mãe, que ela havia escondido por segurança nas gavetas haviam desaparecido. Até mesmo a penteadeira e os batons. Tudo. Tudo havia desaparecido. Miyo sabia que isso era obra de sua madrasta.

“Aconteceu alguma coisa? Miyo ojou-sama[3].”

Ouvindo a voz de Miyo, uma serva entrou no quarto. Era Hana, a pessoa que cuidava de Miyo desde o dia em que ela havia nascido. Uma presença que era quase como uma segunda mãe para Miyo.

“Todas as coisas se foram! Todos os pertences da Okaa-sama[4], eles todos…!”

“Como isso pode…”

Hana estivera fora fazendo compras. Ao ouvir as palavras de Miyo, ela imediatamente entendeu. Hana curvou sua cabeça com lágrimas escorrendo pelos lados de suas bochechas enquanto ela se desculpava, de novo e de novo. Miyo mordeu o lábio e disse:

“Isso deve ser coisa da Mamahaha-sama[5].”

Miyo tinha só dois anos quando sua mãe morreu. Naquela época, seu pai rapidamente acolheu uma segunda esposa na família - a madrasta de Miyo, Kanoko, que detestava a coragem de Miyo.

A filha de Kanoko, meia-irmã de Miyo, Kaya, era três anos mais nova do que ela, mas seu talento já estava começando a aparecer. Com a deslumbrante aparência herdada de sua mãe, Kaya parecia uma fina boneca ocidental. Ela conseguia aprender basicamente tudo em um piscar de olhos. Ela até mesmo herdou a habilidade que Miyo não herdou, a capacidade de enxergar o paranormal, “Visão Paranormal”.

...Tudo isso eram coisas que Miyo não possuía.

O objetivo principal do casamento político entre os pais de Miyo era a transmissão das habilidades. Contudo, aquela que nasceu com a habilidade não foi Miyo e sim Kaya, a filha de Kanoko, que não era de uma linhagem de usuários de habilidades.

Se esse era o caso, então porquê eles haviam sido separados? Não foi inútil terem separado o pai dela e a amante dele, sua madrasta?

Mesmo sendo jovem como ela era, Miyo entendia tais circunstâncias. Sua madrasta frequentemente fazia comentários odiosos como: “Se você apenas não existisse” ou “Sua mãe é uma ladra”.

Porém, entender era uma coisa, aceitar era uma questão completamente diferente.

“Eu vou ver Mamahaha-sama.”

Como estava, Miyo não ficaria mais quieta. Para Miyo, as lembranças de sua mãe eram as únicas coisas que protegiam seu coração dessa fria família.

“Ojou-sama, você não pode ir sozinha!”

“... Está tudo bem. Se alguma coisa acontecer… Eu vou contar a Chichi-sama[6].”

Naquela época, ela ainda pensava que seu pai era seu aliado. Mesmo se ele não se importasse com ela tanto quanto antes, se Miyo contasse a ele sobre suas queixas, ele deveria avisar sua madrasta para ser mais cuidadosa.

No entanto…

“N-não! Alguém! Qualquer um! Me deixe sair!”

Quando Miyo chegou ao quarto de sua madrasta e a confrontou sobre se ela tinha ou não pego as coisas do quarto de Miyo, a humilhação de ser acusada de ladra lançou sua madrasta em um ataque de fúria, e ela trancou Miyo no depósito nos fundos da mansão como castigo.

“Não apareça na minha frente até que você tenha refletido sobre si mesma… Você realmente é a filha de uma ladra. Completamente podre até a alma! Para me acusar de ser uma ladra. Você não é nada comparada a Kaya!”

“Mamahaha-sama! Por favor! Me deixe sair!”

As portas do depósito estavam trancadas pelo lado de fora, assim não importava o quanto Miyo empurrasse ou batesse, elas não se moveriam. Ela se agarrou desesperadamente as portas, chorando para que alguém a resgatasse do depósito. Enquanto isso, a madrasta dela já havia ido embora há muito tempo.

Mesmo o pensamento disso agora fazia o corpo de Miyo tremer incontrolavelmente.

O depósito tinha somente uma pequena janela localizada bem no alto da parede, por onde a luz podia entrar. Consequentemente, era muito escuro mesmo durante o dia. Além disso, como ele era usado raramente, o ar lá dentro era frio e úmido. Era só um espaço para estocar itens variados. Só se pode imaginar o terror sentido por uma garotinha presa lá dentro sem saber quando ela seria solta.

“Uwuu, me deixe sair… Alguém, me salve…”

“Eu sinto muito.”

“Me salve.”

“Me perdoe.”

Miyo chorou. Mesmo assim, ninguém veio para salvá-la. Ela não foi solta até o cair da noite. Depois disso, Hana foi demitida e expulsa da casa.

E a posição de Miyo como a filha da família Saimori decaiu para uma abaixo até mesmo da criadagem.

Amanheceu e Miyo acordou cedo como de costume, pela força do hábito.

Ela enxugou ligeiramente suas lágrimas e se levantou.

Miyo havia se encontrado com Kiyoka ontem, mas eles não trocaram cumprimentos de nenhum tipo. Ao invés disso, ela recebeu um único comando.

“Aqui, as minhas palavras são a lei. Você deve fazer como eu disser. Se eu te disser para sair, você sai. Se eu te disser para morrer, então você tem que morrer.”

Não era nada demais. Para Miyo, isso não era muito diferente de sua vida de antes. Então ela acenou com a cabeça sem hesitar. Vendo a reção dela, Kiyoka franziu as sobrancelhas.

Miyo então foi guiada até o seu quarto por Yurie, que parecia levemente aliviada. Os itens no quarto eram mínimos, só um conjunto de gavetas, uma mesa e um futon[7], só para as necessidades básicas. O quarto era modesto e não era nada extravagante. Contudo, era signitificamente maior do que o quarto dos criados onde Miyo dormia antes na casa dos Saimori. Até mesmo o futon era de uma qualidade melhor.

Miyo, que não tinha muitos pertences, desempacotou a quantidade patética de roupas que ela tinha e as colocou nas gavetas, ficando sem nada mais para fazer. No momento em que ela chegou, já era tarde da noite, então ela só foi para a cama sem jantar.

Talvez por ela ter dormido em um futon macio e confortável, ela não se sentia cansada. De fato, sua condição estava muito boa.

Então Miyo inclinou sua cabeça e pensou: Eu me pergunto… o que eu deveria fazer?.

Ela sem querer acordou cedo como de costume, antes do Sol nascer. No entanto, se ela fosse se tornar a esposa do chefe da família Kudou, ela provavelmente não teria que acordar assim tão cedo. Pelo menos, esse era o caso de sua madrasta.

Desconsiderando a forma como famílias comuns funcionavam, essa era a mundialmente renomada família Kudou. Muito provavelmente, não era esperado que uma noiva dessa família soubesse cozinhar e lidar com as tarefas diárias da casa.

Mas não há nada mais que eu possa fazer.


Miyo havia aprendido a arte do arranjo de flores[8] e da cerimônia do chá[9] no passado, mas desde que ela foi forçada a parar, ela não os havia revisado em um longo tempo. Todo o conhecimento que ela havia acumulado se tornou vago e turvo, e era completamente inútil.

E então, o que ela deveria fazer?



Notas:

[1] Do inglês “thatched house”. Esse estilo de casa é comum em construções do estilo tradicional japonês (que engloba casas com telhado de palha/junco ou ladrilho), sendo que um dos nomes para ela é “minka” (民家), em japonês, uma casa vernacular. Mais informação (inglês): https://en.wikipedia.org/wiki/Minka.

[2] Tipo de faixa de cintura que geralmente acompanha o kimono. Mais informação (inglês): https://en.wikipedia.org/wiki/Obi_(sash). Definição (inglês): JapanDict.

[3] Significa “jovem dama/senhorita” se referindo a alguém de status maior do que o interlocutor. Mais informação (inglês): https://jlearn.net/dictionary/%E3%81%8A%E5%AC%A2%E6%A7%98.

[4] Significa “mãe” na linguagem formal, “okaa-sama” ou “okaasan”, em japonês. Definição (inglês): JLearn.

[5] Significa “madrasta”, “mamahaha” ou “keibo”, em japonês. Definição (inglês): JapanDict.

[6] Significa “pai”. Definição (inglês): JLearn.

[7] Tipo de cama japonesa, que consiste em um “colchão” (tecnicamente uma almofada acolchoada para dormir) colocado diretamente no chão. Mais informação (inglês): JapanDict.

[8] Em japonês, “ikebana” (flores vivas) ou “kado” (caminho das flores), tradição datada do período Heian (século XII) quando se ofertava flores nos altares. Seu objetivo é extrair as qualidades internas das flores e outros materiais vivos sob certas regras de arranjo e por fim, expressar emoção. Mais informação (inglês): Japana Home. Vídeo explicativo (inglês): Ikebana.

[9] Em japonês, “chanoyu” (água quente [para] chá) ou “chado/sado” (caminho do chá), como o ikebana data do período Heian, trazido ao Japão junto com o Zen Budismo, utilizado inicialmente por monges. Seu objetivo é alcançar a “paz numa xícara de chá”, através do ritual, concentração e desenvolvimento rítmico da cerimônia que levam a meditação, tranquilidade e a paz superior. Mais informação: Mundo-Nippo. Vídeo explicativo (inglês): Japanese Tea Ceremony.


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Comentários

  1. Oi. Vai ter continuação dos capítulos? 😊

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    1. Oi Amanda! Obrigada pelo comentário. Eu andei ocupada, mas pretendo continuar sim, porque eu gostei bastante dessa história. Esse ano ainda pretendo publicar mais alguns.

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