[Novel] Watashi no Shiawase na Kekkon - Capítulo 6 (português)
Capítulo 6
Café-da-manhã e Lágrimas
[Bom trabalho, Kaya. Você tem Visão Paranormal. E bom trabalho para você também Kanoko, por ter dado a luz a essa criança.]
Aquela era a voz do pai de Miyo.
Ela se lembrou. Isso aconteceu antes da sequência do sonho de ontem. Eram as memórias de quando eles descobriram que Kaya tinha Visão Paranormal.
Miyo então percebeu que isso era outro sonho.
[É claro! Ela é minha filha, afinal!]
Sua madrasta tinha uma expressão de orgulho enquanto seu pai acenava com satisfação e sua meia-irmã ria com alegria.
Aquele era o retrato de uma família feliz.
Mas, infelizmente para Miyo, nunca houve um lugar para ela naquela família. Porque ela não era família para eles. Mesmo antes de ela se tornar uma serva, ela só podia observar de longe. Não importava o quanto ela tentasse, aquela família acolhedora nunca foi dela.
[Parece que a Visão Paranormal da senhorita Kaya foi descoberta recentemente.]
[Ela não tem só 3 anos? Isso é incrível!]
[Em comparação, a senhorita Miyo…]
[Aparentemente, já não tem esperança para ela.]
[Apesar de ambos os pais serem usuários de habilidades.]
[Que lamentável, ela não herdou nada.]
As vozes ressoaram na mente de Miyo.
O lugar dela, seu valor, todos foram gradualmente desaparecendo. Ela podia até mesmo sentir isso na pele. O ar na casa mudou para um de respeito por Kaya, enquanto que o tratamento dado a ela só piorou. Em uma casa onde ela só tinha Hana, ainda que fosse doloroso, ela sabia que quando reconhecesse isso, ela se tornaria incapaz de prosseguir. Como tal, ela empurrou a memória para o fundo de sua consciência o melhor que pôde.
Parando para pensar, isso tinha sido quando Kaya começou a olhar com desprezo para Miyo.
Aquelas memórias infelizes. Após ser reduzida a uma serva, enquanto era difícil para seu corpo se acostumar, era ainda mais difícil para seu coração. O coração da jovem Miyo estava constantemente sendo ferido.
[Eu sou uma filha indesejada.]
Ela ainda se lembrava das vezes em que murmurou estas palavras para si mesma.
Uma menina que mal tinha 10 anos de idade, foi atingida com a percepção de que ela não foi abençoada com uma habilidade nem com nada louvável sobre si. Apesar de estar na idade de choramingar e fazer gracinha para os pais.
Quando a serva Hana viu isso, ela quase chorou. Falando nisso, como estaria Hana agora? Miyo não tinha visto ela desde que tinha sido trancada no depósito por sua madrasta e Hana tinha sido demitida.
Hana ainda era jovem na época e Miyo esperava que ela tivesse encontrado alguém bom e que fosse feliz.
Miyo acordou novamente em lágrimas.
Quão desafortunado era, ter pesadelos duas vezes em sequência. Seria isso um aviso? Para lembrá-la do quão inútil ela era mesmo deixando a família Saimori?
Eu sei.
Ela sabia. Quão terrivelmente medíocre ela era.
Ela não se lembrava de quantas vezes ela desejou não ter nascido naquela família, mas em uma cheia de calor ao invés disso. Não importava se não fosse uma família famosa, ou mesmo se a vida fosse um pouco mais difícil.
… O eu de agora não pode ser vista pela Hana.
Para alguém que se importava profundamente com Miyo como Hana, ela certamente ficaria muito triste.
Miyo saiu da cama silenciosamente, dobrou o seu futon e mudou sua roupa de dormir para sua roupa diária. Então ela percebeu que parte do seu kimono estava rasgado. Era um kimono anil simples que já tinha algum tempo.
Ah… Ele chegou no seu limite.
As costuras nas costas estavam rasgadas. Isso era provavelmente porque a linha tinha se desgastado com o tempo e se rompeu, resultando em um buraco. Talvez também fosse porque Miyo tinha repetidamente remendado o mesmo lugar com agulha e linha, fazendo o tecido na região ficar fino. Não parecia que daria para remendar de novo e olhando mais de perto, algumas outras partes pareciam prestes a se desfazer.
Esse kimono na verdade foi passado para ela de uma serva da família depois que ela deixou de usá-lo. Quando chegou até ela, já estava bem gasto e não havia nada que Miyo pudesse fazer sobre isso. Contudo, para Miyo que não tinha quase nada para começar era o suficiente. Quando esse kimono não puder mais ser usado, ela não teria nenhuma outra roupa para vestir.
Quando deixou a casa dos Saimori, seu pai tinha dado a ela alguns kimonos novos. Mas esses eram kimonos para usar para sair, então ela não poderia arriscar sujá-los. Além disso, eles eram um pouco extravagantes demais para o uso diário.
Dito isso, Miyo ponderou se o dano era completamente irreparável enquanto pensava em pedir a Yurie alguns materiais de costura emprestados. Enquanto pensava consigo, ela se aprontou e saiu do quarto.
Quando chegou à cozinha por volta da mesma hora de ontem, Yurie já tinha chegado.
“Ah, bom dia, Miyo-sama.”
“...Bom dia, Yurie-san.”
Por que Yurie tinha chegado ainda mais cedo do que na manhã anterior?
Talvez sua confusão não estivesse propriamente oculta pois Yurie sorriu para ela e disse.
“Eu estava muito preocupada sobre o que aconteceu ontem de manhã, então eu decidi vir mais cedo… O que você vai preparar essa manhã para o café?”
“Ah… Se é esse o caso…”
Com Yurie aqui como sua testemunha, ela poderia provar que Miyo não envenenara a comida. Na verdade, Kiyoka tinha falado sobre isso com Miyo na noite passada.
[Eh? Café-da-manhã?]
[Ah ah, eu sinto muito por não ter comido e ter deixado sobras essa manhã… Você vai fazer o café para mim amanhã de novo?]
Kiyoka, que tinha saído do banho e posto um leve pijama, perguntou de forma levemente estranha com o rosto virado para longe.
[Mas eu…]
[Está tudo bem. Ainda que claro, eu não vou deixar você se safar se realmente envenenar a comida.]
Algo assim era impossível.
Alguém como Miyo nunca iria receber ordens para assassinar o chefe da família Kudou. Se seu pai realmente quisesse assassinar Kiyoka, ele prepararia um assassino melhor.
Em primeiro lugar, seu pai, sua madrasta e Kaya estavam todos esperando que ela fosse mandada embora a qualquer momento agora.
E isso foi o que Miyo contou a Yurie. Essa era a razão pela qual ela estava fazendo o café hoje.
“Aiya, Bocchan poderia só ter dito se ele queria provar a comida feita por Miyo-sama.”
“...E-Eu não acho que esse seja o caso…”
“Fufufu, bem então, Miyo-sama, por favor permita que Yurie a ajude.”
“S-Sim, por favor.”
As duas começaram a preparar a comida juntas.
Haviam muitas diferenças entre o jeito que Yurie trabalhava e o chef da residência Saimori. Esse provavelmente era o jeito como a comida caseira era feita, pensou Miyo. O trabalho de um chef, independente de ser bom ou ruim, era de uma qualidade muito alta e era na maioria das vezes difícil de ser copiado por um amador. Como Miyo não era habilidosa nisso, ela só podia assistir e aprender o jeito como Yurie trabalhava.
“Miyo-sama, você acordou muito cedo.”
“Ah… sim. Eu sempre acordava cedo na casa dos meus pais…”
Bem, é mesmo? Yurie assentiu para si mesma, impressionada.
“Erhm, Yurie-san.”
“Aiya, sim?”
“Tem materiais de costura nessa casa?”
“Sim, tem sim. Se você precisar, eu posso trazê-los para o seu quarto depois.”
“Obrigada.”
Isso não parecia suspeito já que costura era algo que damas de famílias famosas frequentemente faziam. Apesar de que… elas definitivamente não costuravam para remendar nada.
Enquanto elas conversavam, a comida ainda estava sendo preparada de forma organizada e eficiente, e eventualmente chegou a hora de Kiyoka se levantar.
Assim como ontem, os pratos feitos foram alinhados na mesa e trazidos para a sala de estar*. Coincidentemente, Kiyoka também tinha acabado de chegar.
“Bom dia.”
“Bom dia, danna-sama.”
Em pé na frente de Kiyoka, que estava vestido com seu uniforme militar, Miyo se sentiu nervosa de novo. Toda vez que ela via aquele seu belo noivo, ela perdia a confiança em si mesma. Se ela pudesse se colocar no lugar dele, mesmo que por um momento, ela tinha certeza que se sentiria confiante.
Então, eles sentaram em frente um ao outro na sala que não era assim tão grande.
“Então, eu vou comer agora.”
“S-Sim…”
Kiyoka parecia levemente confuso por Miyo ter respondido, mas não estar movendo seus chopsticks.
“Você deveria comer também.”
“S-sim, sinto muito… I-itadakimasu.”
Ela pegou seus chopsticks silenciosamente e começou a comer quase ao mesmo tempo que Kiyoka.
O gosto… era muito comum. Miyo imaginou se Kiyoka seria capaz de aguentar isso com o seu paladar mimado. Ela se preocupava com como ele se sentia após provar a comida e tomar um pequeno gole da sopa de missô.
“...Delicioso.”
“...Eh?”
“Tem um gosto um pouco diferente da de Yurie, mas é tão boa quanto.”
Ele disse, em seu tom usual, o que mostrava que ele realmente se sentia daquela forma.
Delicioso.
Mais do que qualquer coisa.
Só aquela única palavra a fez se sentir recompensada por todos os testes pelos quais havia passado sozinha. Era a primeira vez em anos, desde que ela havia sido reconhecida e elogiada.
Miyo podia sentir alguma coisa subindo do fundo de seu coração.
“Ah… Muito obrigada.”
Sua voz estava trêmula.
“...Por que você está chorando?”
Miyo não sabia, mas lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
Notas:
*O sinal [ ] que contém texto dentro serve para indicar flashbacks. Nem eu tinha percebido isso até ver o aviso da tradutora da versão em inglês desse capítulo.
*No material em inglês está descrito como “living room” ou “sala de estar”, ainda que possa parecer estranho. Como disse a tradutora em inglês, você pode ver no mangá, que a comida é servida em pequenas mesas individuais e não em uma grande mesa comum.
Fonte (inglês): Novel Online Full
Tradução: Graceful Spring
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